O Instituto Nacional de Pesquisas em Saúde da Inglaterra anunciou recentemente o investimento de cerca de R$ 7 milhões em um estudo que avaliará os efeitos da ioga para idosos que apresentam condições mais frágeis de saúde.
A iniciativa inglesa espelha uma tendência mundial observada em outras instituições científicas de renome que tem por objetivo descobrir quais os reais benefícios da prática para a saúde e de que forma eles ocorrem, especialmente no organismo de pessoas mais velhas. “A ioga tem sido muito estudada por seus potenciais e variados impactos positivos, como aumento da força, da flexibilidade e da qualidade de vida, mas é preciso conhecer mais a respeito de sua efetividade e custos”, explicou GarryTew, professor do Departamento de Esporte, Exercício e Reabilitação da Universidade da Nothumbria, na Inglaterra. A instituição conduzirá o trabalho em conjunto com a Universidade de York.
A ciência está de olho na ioga desde que a prática conquistou o Ocidente. Os relatos de bem-estar e de condicionamento físico registrado por adeptos chamam a atenção e estimulam centenas de trabalhos ao redor do mundo. Até hoje, as evidências científicas demonstram que, de fato, os exercícios promovem saúde, inclusive a mental, contribuindo para reduzir a ansiedade e a depressão.
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Uma das mais recentes publicações sobre o tema foi feita no jornal científico Restorative Neurology and Neuroscience e descreveu uma pesquisa que sugere benefícios no controle da artrite reumatoide, doença autoimune crônica. O impacto, disseram os autores da pesquisa, foi maior no alívio da depressão que pode acompanhar a manifestação da enfermidade por conta das limitações que podem surgir em sua decorrência, como dor constante ou dificuldades de movimento.
Muito do que se quer, agora, é compreender por meio de quais mecanismos os benefícios acontecem. Na Inglaterra, por exemplo, os cientistas irão recrutar cerca de 600 indivíduos com mais de 65 anos portadores de condições crônicas, como diabetes, moradores de doze localidades. Eles participarão de um programa de exercícios executado ao longo de quatro meses e terão sua saúde avaliada antes e depois.
No Brasil, são realizados trabalhos semelhantes. Um estudo liderado pelo educador físico Rui Ferreira Afonso, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP), mostrou que mulheres acima de 60 anos que praticam ioga com freqüência desempenham melhor atividades do dia a dia que exigem flexibilidade, equilíbrio, força e coordenação motora fina. Chamados de valências físicas, estes atributos são importantes para a garantia de um envelhecimento com maior qualidade de vida.
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Participaram da pesquisa 42 mulheres com idade igual ou superior a 60 anos – a média de idade foi 67 anos. Destas, 21 praticavam duas vezes por semana por pelo menos oito anos. A outra metade das voluntárias nunca havia feito qualquer intervenção corpo-mente. “O estilo de vida, que inclui alimentação e atividade física, é fundamental para um envelhecimento saudável e com autonomia. A ioga é uma prática meditativa que exercita a mente e o corpo por trabalhar com atenção sustentada e movimentos físicos que inclusive gastam energia”, explica Afonso.
As mulheres realizaram cinco testes físicos que mediram atributos como força, flexibilidade e equilíbrio. “Com o avanço da idade, as pessoas perdem capacidades físicas. Boa parte das quedas, por exemplo, acontece logo depois que um idoso levanta de uma cadeira, sofá, cama ou banco. Ele perde o equilíbrio e como seus membros inferiores têm menos força, cai”, diz o pesquisador. Um dos testes, chamado Timed Up and Go, mede exatamente esta capacidade. Cada idosa levantou-se da cadeira, caminhou por três metros e voltou a se sentar.
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Os resultados foram comparados entre mulheres que fazem ioga e as que nunca tiveram contato com a atividade. “A velocidade com que a tarefa é executada é o que define como está a capacidade”, explica Afonso. Para flexibilidade, por exemplo, o teste escolhido foi o de abaixar para pegar um objeto no chão. A destreza manual e a integração visomotora (habilidade para controlar o movimento da mão guiado pela visão) também é prejudicada com a idade, com piora significativa após os 60 anos. Para avaliar o desempenho na execução de ações como abotoar botões ou enfiar uma linha na agulha, as voluntárias realizaram o teste Purdue Pegboard, que consiste em encaixar pinos em furos de um tabuleiro. As idosas que praticam ioga realizaram o teste em menor tempo e com mais precisão.
Dos cinco exercícios realizados pelos dois grupos de mulheres, as adeptas saíram melhor em quatro. A exceção fica por conta do handgrip, exercício de pressão manual que mede força: este teve resultados semelhantes em ambos os grupos. “A parte física da ioga tem como característica exercícios de equilíbrio, alongamento, força e mobilidade. Assim como no estudo de um idioma, que precisamos treinar com frequência para nos tornarmos fluentes, os benefícios da prática precisam ser feitos de forma constante. Os resultados são percebidos ao longo do tempo”, assegura o educador físico Afonso.
(Fonte: Agência Einstein)